10 outubro 2009

Nadir Afonso







Sobre Nadir Afonso

Nadir Afonso Rodrigues nasce em Chaves a 4 de Dezembro de 1920.

Em 1938 ingressa no Curso de Arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto. Até 1946 participa em todas as exposições do Grupo dos Independentes. Ali irá assumir-se como um dos mais notáveis precursores do abstraccionismo na arte portuguesa. Ao mesmo tempo expõe no Secretariado Nacional da Informação em 1944 e 1945, tendo uma das telas exibidas sido então adquirida pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa. Durante este período Nadir cruza influências do Surrealismo com uma progressiva abstractização das formas, criando uma singular síntese entre as duas tendências que o individualiza em relação aos seus colegas portuenses.

Em 1946, já em Paris, estuda pintura na École de Beaux-Arts e frequenta o ateliê de Fernand Léger, tendo obtido, por intermédio de Portinari, uma bolsa de estudo pelo Governo francês. Colabora, como arquitecto, nos ateliers de Le Corbusier entre 1946 e 1948 e novamente em 1951. Será um projecto desenvolvido sob a orientação deste que está na base da tese A Arquitectura não é uma Arte, que defende no Porto em 1948.

Em final de 1951 desloca-se para o Brasil, onde trabalhará, nos três anos seguintes, em colaboração com o arquitecto Óscar Niemeyer, principalmente dirigindo o escritório de S. Paulo na elaboração do projecto para as comemorações do IV Centenário daquela cidade.

De novo em Paris, em 1954, Nadir retoma contacto com os artistas orientados nas pesquisas da arte cinética. Expõe ao lado de vultos como Vasarely, Mortensen, Herbin e Bloc, na galeria Denise René (1956 e 1957), assim estabelecendo uma situação de acerto com a arte internacional única entre os artistas portugueses coevos. O interesse pelos fenómenos da óptica e da geometria, que em 1943 registara em alguns estudos, levam-no à criação de Espacillimité (1953/4-63). No âmbito desta série chega a animar mecanicamente um trabalho que apresenta no Salon des Réalités Nouvelles (1958). Patrocinado por Vasarely e Michel Gaüzes publica o seu primeiro trabalho de reflexão estética: La sensibilité plastique (Presses du Temps Présent, Paris, 1958), defendendo uma fenomenologia da geometria perceptiva. No ano seguinte realiza a sua primeira grande antológica na Maison des Beaux-Arts (1959), com referência crítica de José-Augusto França na revista Art d'Aujourd'hui.

Em 1960 regressa a Portugal para realizar várias exposições de pintura, entre as quais se destacam as que tiveram lugar no Secretariado Nacional de Informação (1961), na Escola de Belas-Artes do Porto (1963) e na Cooperativa “Árvore” (1966). Representa Portugal na Bienal de São Paulo (1961).

Intercala estadias entre Portugal e França, ao mesmo tempo que desenvolve e concretiza as suas concepções estéticas sob a forma de um estudo, publicado com o título de Les Mécanismes de la création artistique (Édition Griffon, Neuchâtel, 1970).

Em 1965 abandona definitivamente a arquitectura, consagrando-se inteiramente à pintura. Segue-se um período de pleno reconhecimento crítico e institucional: Prémio Nacional de Pintura (1967), Menção Honrosa - Prémio Soquil (1968) e Prémio Amadeo Souza-Cardoso (1969). À sua obra dedicou uma monografia o crítico de arte Fernando Guedes (Editorial Verbo, Lisboa, 1967). Volta novamente a expor no Secretariado Nacional da Informação (1968) e na Bienal de São Paulo (1969). Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris entre 1968 e 1970. Esta instituição dedica-lhe uma retrospectiva que será apresentada em 1970 no Centre Culturel Portugais em Paris e posteriormente em Lisboa. No mesmo ano apresenta uma individual no Centro de Culture TPN, Neuchâtel, Suiça.

Em 1974 expõe na Selected Artists Galleries (Nova Iorque), onde publica Aesthetic Synthesis (ed. Galeria Alvarez com colaboração Selected Artists Galleries), e em 1976 e 1978 na Galeria Art-Service (Paris). No ano seguinte, é realizada novamente uma mostra no Centre Culturel Portugais, em Paris. 

Entre 1961 e 1983 realiza 23 exposições individuais em Portugal, com destaque para as da Galeria S. Mamede (1979 e 1981), Buchholz (1971), Alvarez (1972), Quadrum (1975 e 1980) e Cooperativa Árvore (1983). Em 1979, Fernando Pernes dedica-lhe um importante ensaio publicado na Colóquio / Artes (nº. 41), momento em que Nadir é capa daquela reputada revista especializada em arte.

Em 1983 publica Le Sens de l’Art (Imprensa Nacional, Lisboa). No ano seguinte é condecorado Oficial da Ordem Militar “Santiago de Espada”. Segue-se uma série de exposições individuais realizadas no estrangeiro: em 1985 J. M. Gómez Segade comissaria uma grande retrospectiva em La Madraza, Granada. Depois de apresentar a sua pintura na Embaixada Portuguesa em Brasília (1986), Nadir volta ainda a expôr por três vezes na Galeria Art-Service, Paris (1987, 1991 e 1995).

O olhar antológico e retrospectivo intensifica-se. Neste âmbito destaca-se a exposição retrospectiva que Rui Mário Gonçalves comissaria sobre a sua obra, em 1993, no Museu da Região Flaviense, Chaves. Em 2001, uma grande retrospectiva é-lhe também dedicada no Centro Cultural de Cascais. E mais recentemente, em 2003, foi o artista homenageado na XII Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira, onde apresenta uma exposição antológica. Em inícios de 2009, para comemorar os 70 anos de carreira do artista, a Assembleia da República, em parceria com a Fundação Nadir Afonso, apresenta uma antológica subordinada à temática das Cidades (com curadoria de Bruno Marques e Ivo André Braz).

Nos últimos anos, a par de uma intensa actividade pictórica, Nadir revela-se igualmente prolixo na produção de livros sobre arte e pensamento, tendo um dos volumes da sua autoria - Sobre a Vida e a Obra de Van Gogh (Chaves Ferreira Publicações, 2002) - sido escolhido para melhor livro de Arte da Feira de Frankfurt em 2003, e no mesmo ano seleccionado para figurar no Museu do Livro em Leipzig.

Bruno Marques



Bibliografia activa (volumes)

- La Sensibilité Plastique. - Paris: Presses du Temps Présent, 1958.
- Les Mécanismes de la Création Artistique. - Neuchâtel: Editions du Griffon, (publicado em edição francesa, inglesa e alemã), 1970.
- Aesthetic Synthesis, Edições Alvarez e Selected Artists Galleries, Nova Iorque, 1974.
- Le Sens de L’Art. - Lisboa: Imprensa Nacional 1983.
- Da Vida à Obra de Nadir Afonso. - Lisboa: Bertrand Editora, 1990
- O Sentido da Arte. - Lisboa: Livros Horizonte, (ed. original francesa 1983, ed. alterada 1999).
- Universo e o Pensamento. - Lisboa : Livros Horizonte, 2000
- Sobre a Vida e a Obra de Van Gogh - Lisboa: Chaves Ferreira Publicações e Fundação Nadir Afonso  2002.
- Da Intuição Artística ao Raciocínio Estético. - Lisboa: Chaves Ferreira Publicações, 2003.
- As Artes - Erradas Crenças e Falsas Críticas / The arts : erroneous beliefs and false criticisms (trad. Alexandra Andresen Leitão) - Lisboa: Chaves Ferreira Publicações e Fundação Nadir Afonso, 2005 (ed. belingue: português e inglês).
- Nadir Face a Face com Einstein/ Nadir Face to Face with Einstein (trad. Alexandra Andresen Leitão) - Lisboa: Chaves Ferreira Publicações e Fundação Nadir Afonso, 2008 (ed. bilingue: português e inglês).


Bibliografia passiva seleccionada

- SEGADE, Juan Gomez, "Nadir Afonso: de arquitecto a pintor ", in Nadir Afonso. O Fascínio das Cidades. - Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2003, pp. 7-23.
- BRAZ, Ivo André e MARQUES, Bruno, "As Cidades (In)visíveis de Nadir Afonso", in Nadir Afonso: as cidades no homem. (org. Fundação Nadir Afonso; curadoria de Bruno Marques e Ivo André Braz). – Lisboa: Assembleia da República, 2009, pp. 8-30. 
- FRANÇA, José-Augusto, A Arte e a Sociedade Portuguesa no Século XX, - Lisboa: Livros Horizonte, 1991 (1. edição 1970;  2.º ed. aumentada 1991), p. 56.
- GONÇALVES, Rui Mário, 100 Pintores Portugueses do Século XX. – Lisboa: Publicações Alfa, 1986, pp. 104-107.
- GUEDES, Fernando, Nadir Afonso. - Lisboa: Verbo, 1967.
- LAPA, Pedro, “A Arte Cinética em Portugal” , in Revolução Cinética (cat. exp.). – Lisboa: Museu do Chiado, 2008, pp. 48-50
- PERNES, Fernando,  "Nadir Afonso", in Colóquio / Artes. - Lisboa, n.º 41 (Junho 1979), pp. 5-13.
- PINHARANDA, João, Percursos do Abtraccionismo: Fernando Lanhas, Nadir Afonso, Joaquim Rodrigo. - Lisboa, (Dissertação de Mestrado). - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1985 (exemplar dactilografado).






Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.